Ah, é verdade, este blog é mesmo experimental. Acho que nã o vou manter durante muito tempo.... Ou talvez.... Àqueles que me deram o empurrão, agora, aturem-me!!!

"Não se pode contar nada aos amigos! A conversa torna-se logo tão elástica que as horas passam e o tema continua a ser esculpido como se fosse uma enorme estátua. Este é um desses casos. Falamos destes laços especiais que nos prendem inexplicavelmente a outras pessoas, e que umas vezes se tornam cordas fortes, outras fios delicados, mas que raramente se partem. E veio-me à memória a história exemplar que uniu Hergé, ou seja, o “pai” do TinTim, a Tchang Tchong-Jen, um estudante chinês de belas-artes na Bruxelas dos anos 30. Hergé, cujo verdadeiro nome era Georges Remi, contava levar Tintim até à China. Procurava quem lhe desse pistas. Ora foi Tchang, então a estudar naquela cidade belga, quem acabou por contar do seu país e da sua experiência. Está tudo em O Lótus Azul, onde até surge, muito naturalmente, um jovem de nome Tchang... O facto é que este encontro fortuito mudou muito as perspectivas de Hergé, primeiro sobre o seu próprio trabalho- fê-lo descobrir a necessidade de aprofundar mais os temas que tratava e de conhecer melhor os paises que lhe serviam de cenário. Depois, ensinou-lhe muito sobre arte, sobretudo a partir do que Tchang lhe mostrou da pintura oriental. Terminados os estudos, o amigo chinês regressou à sua terra natal, para nela viver momentos conturbados. Forma mais ou menos quarenta anos sem que tivessem notícias um do outro. Hergé bem tentou, mas só por intermédio de um diplomata descobriu Tchang, numa altura em que, em plena Revolução Cultural e a trabalhar num arrozal, o seu amigo longínquo vivia momentos difíceis e desesperantes. A longa carta que então recebeu animou-o de um modo extraordinário. Como só os amigos sabem fazer... Seguiram-se mais cinco ou seis anos para conseguirem visto que permitisse cair nos braços um do outro, o que veio a acontecer só nos anos 80. Já Hergé tinha desenhado, vinte anos antes um outro álbum, Tintim no Tibete, tendo como personagem principal a amizade: Tintim pressente que o seu amigo Tchang está em perigo, algures no Tibete. E parte. E salva-o, quando nada o faria prever. A literatura e as artes estão cheias de histórias destas, o que só acontece porque todos os dias nos acontecem histórias destas. Pelo que se podem retirar duas ou três lições deste episódio aos quadradinhos.
Os amigos apresentam-nos mundos novos. Ou uma outra maneira de ver o nosso. Foi mão amiga que me ofereceu a poesia. Um amigo meu apresentou-me a fotografia, e percebi-o melhor através da paixão de outro que há muito não vejo, mas que sei que quando o reencontrar provavelmente choraremos um abraço. Tenho aqui bem próximo um que me ensina bossa nova. Para Sul há uns que me mostram as alegrias de inventar famílias. Há um que vive numa pobreza toda especial algures por Lisboa. Podia seguir enumerando cada um dos interesses, dos apetites, das zonas da minha curta vida. Tive o imenso privilégio de ter crescido rodeada de amigos. Poucos, mas bons... Talvez por isso corra tantas vezes o risco de escolher trabalhar com amigos ou acabar amiga de com quem convivo. E também por isso me é particularmente doloroso perceber que um amigo, afinal, não o é.
Os amigos ganham-se ou perdem-se nas situações difíceis. No país da amizade não há tribunais, mas também não há mapas. A primeira coisa que um amigo faz é abrir a porta, a segunda é ouvir. As perguntas chegam depois, e serão todas passadas pelo crivo da sinceridade. O amigo está sempre lá e acolhe antes de opinar, cada um da sua maneira muito própria. O amigo fará tudo pelo amigo, mas não fará necessariamente aquilo que o amigo quer, mas o que a amizade lhe manda. A razão é simples: não podemos viver a vida através dos outros. Sem ter vivido alguma coisa nada tenho para trocar e é disso que se fala quando se fala de amizade: de partilha, essencialmente de sentimentos. Nenhum amigo evita problemas, ninguém tem as soluções que precisamos. Ajudam a perceber os problemas, o que é meio caminho para encontrar as soluções. Os amigos são-no independentemente do tempo e de outras coisas. Como não obedece a nenhuma regra, não é a distância nem a ausência de contacto que mata uma amizade. Claro que convém alimentar com desafios e questões, e o gozo comum de pequenos gestos ou prazeres, mas nenhuma amizade é igual, nem uma substitui outra. Há amizades para todos os dias, como algumas têm apenas a duração de um cometa. Há amizades que reanimam com um telefonema ao passo que outras só com décadas de trabalho. É a intensidade do que se viveu em comum que fixa cada um dos prazos e os modos de o gerir. Os modos de gerir a nossa entrega...
Também isso fascina na amizade: marca mais que uma tatuagem, voa mais alto que qualquer avião. Algumas, são mais que meras amizades.... E é para essas que temos os nossos sentidos mais atentos...
Como tal, os amigos são o que escolhemos com mais cuidado e é desse sentimento que nunca deveremos descurar. "
Sintam-se... Até à próxima!
1 comentário:
Achei que o primeiro post desde blog merecia ter um comentário e desculpa estar demasiado cansado e não escrever algo mais poético...
...só para dizer que apesar de gostar dos teus elogios sinto que eu é que devia fazê-los...e ainda agora comecei a ler :-)
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