
Ele encena e representa sempre a mesma manobra: aparece com o seu ar carregado, abre o banco onde se senta, pousa numa qualquer calçada lisboeta o embrulho que envolve tantos sons, abre esse mesmo embrulho e produz melodias com as mãos, sujas e viajadas.
Os transeuntes vagueiam como se passeassem entre as paredes dum S. Luís, do Teatro S. Carlos... Composições variadas invadem os sentidos de quem passa, tantas vezes, por passar. Deve ser por isso que os seus olhos - esses de aspecto límpido- se rebolam pelo chão, como bailarinos que ignoram os restantes presentes no salão de baile.
Vagueia na melodia, cumpre a sua função... Despede-se quando se cansa de dançar, esquecendo, na certa, que há sempre uma plateia pronta para o aplaudir, mesmo não sendo ele um Tcheckov. Vem de longe conhecer mundos longínquos, mas desconhecendo os olhos que os habitam, pois estes não o vêem, não o sentem. Porque o ignoram. Tem as mãos sujas. Sujas mas a rodear a sua música, sempre limpa.
Levanta-se. Faz um rewind dos movimentos de chegada.... E vai...
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