Como Se Tivesse Sempre 20 Anos...

Foto By Xein



Nada se move lá fora. O calor tornara-se sufocante, o ar impossível de respirar. Multidões atolam o areal em frente à janela desta velha casa, pertencente aos meus avós. Um areal de perder de vista, plantado neste país à beira mar esquecido… As crianças espezinham os que já nem se lembram de respirar, os cães destroem as belas construções dos terroristas de pés grandes, o homem dos gelados dá-se por vencido. Um terror à sombra dos 40º que entram, intrusos, pelas narinas, boca, por todos os poros até nos secar o estômago.

Cá dentro somos dois. Respiramos o ar azul e egoísta; fresco como o Outono de tempos.
Deito-me ao teu lado e vejo-te deixar cair as pálpebras, olhando-me como se pedisses desculpa pela moleza que te invade o corpo. Olhas-me muitas vezes como que pedindo perdão… Sorrio e fico a contemplar a beleza que pediste emprestada no dia que nasceste. Penso eu que foi no dia que nasceste, pois sempre me lembro de ti assim, perfeito nas tuas imperfeições que te tornam mais belo. Tu sempre te achaste menos do que és, mas com o tempo foste-te esquecendo de reclamar.

Lembro-me quando dormíamos apertadinhos em qualquer lugar, a tua pele morena junto à minha quase transparente, os teus olhos espertos para a novidade, com uma cor indefinida que os torna únicos. Hoje, tens o cabelo descolorido, tens o corpo próprio para a idade; mas hoje, hoje sei que a tua beleza foi requerida de empréstimo para a eternidade.

Encosto-me a ti e dormimos apertados como outrora… Fingindo ter sempre vinte anos…

"Se pudesse as minhas mãos faziam parte do teu corpo para sempre" penso.