6.25.2005

Vou À Tua Procura... Pra Sempre...


Foto By Xein


Vasco encontrava-se naquele dia, como em tantos outros, num local musical! Desta feita não num lugar com música ambiente proveniente da própria natureza, mas sim da natureza de quem a compõe. Esta era a vida de Leonor: viver dos sons que a abraçam e fazer melodias dos sentimentos, das coisas, das pessoas, da própria vida. Melodias constantes, nem sempre alegres, mas que transformam os piores momentos em momentos menos maus. Vasco apercebera-se dessa musicalidade assim que atracou os seus olhos nela, quão barco longínquo atraca em porto incerto. Assim era, também, a vida de Vasco: um constante embarcar em portos incertos. Portos onde descarrega as suas cargas de emoções, as suas mercadorias de sentimentos. Contudo, todas estas embalagens provinham de sítios duvidosos, eram conteúdos nunca inspeccionados por alguma alfândega. Trazia sempre embrulhos de conteúdo fácil e leve, que esperava ver insuflar e daí retirar a sua riqueza: a multiplicação de conteúdos. O que raras vezes viu acontecer, embora a sua maior riqueza fosse ter tanta "carga pesada" para deixar em Bom Porto. Mas, como já alguém dissera: um fato de marinheiro não chega para entender o mar, e também não é o suficiente para se perceber de Portos, ao ponto de olharmos para eles e sabermos se são seguros!

Vasco saíra naquele dia com a ilusão de que música lhe traria música à vida. Uma musicalidade diferente, bailarina, de olhos grandes e largo sorriso.... Faz-se à estrada com as amarras direccionadas para um cais desconhecido, usando apenas a imaginação. Afinal "que seria do amor sem a imaginação"??? Para trás fica um gato, o Gaspar, e a louça do jantar. Para a frente fica o olhar de Vasco, que transportava todas as visões de quem se dirige para o lado certo da noite. Faz-se à estrada. O caminho não é curto, mas certamente valerá a pena. Ele acredita que cada vez mais trás aquela personagem azul dentro de si, o que o leva a presumir que a sua intenção está certa!

A cidade pelo caminho:

Teias de ferro fortificam a cidade industrial
Que se alimenta do suor dos corpos mecanizados
O aço temperado, a manufactura (...)
E ninguém sabe aonde irá desembocar a aventura.


"Mas eu sei", pensa Vasco, já próximo do verde e pouco arejado espaço, devido ao bafejar de tantas personagens coloridas que ali se encontram. Nenhuma é azul, desilude-se, enquanto mareia para a encontrar, tal como um caranguejo persistente que se esqueceu das suas cartas de marear onde se encontra a forma de contactar Leonor. Apagam-se as luzes envolventes, apenas uma brilha naquele breu, no próprio palco, que não é o da vida, mas antes fosse. Entram acordes. Gente inquieta, SALTA, canta, PULA, vibra, DaNçA, grita, empurra-se.... E nada... Nada... Nada... E Vasco, a marear... A marear... A marear...

Até que, já que nada o prevesse, e enquanto sacode umas gotas que lhe caem na perna desenhada que lhe lembra sempre uma determinada estrela-do-mar (talvez gotas de oceano escorrendo-lhe dum qualquer cabelo ondulado, como o próprio mar, ou mais provavelmente, as últimas gotas da chuva que parara de novo), eis que lhe aparece Leonor, como que caída dum qualquer planeta distante.

As palavras de outrem que ela lhe disse:

E eu fiquei a saber donde tu vens, tu saíste da cepa
que a carne e o sangue veneram
havias de achar muita graça se me ouvisses falar assim
nós não descobrimos nada, dir-me-ias tu, tudo está descoberto
até à Rota do cabo
vamos antes brincar de gato e rato até ao fim...



HÁ MOMENTOS FLAGRANTES!!!!!!



Sintam-se... Sempre em Descoberta!!!

4 comentários:

rspiff disse...

Lentamente enquanto procuro por mim alguém acha o que escrevo e eu um novo mundo para ler...

Sinto-me!

P.S. devias ter um mail

trigolimpofarinh@mparo disse...

Mais uma excelente história, em nada “low”, dado a intensidade de tudo o que ela representa.

Sinta-se sempre… com ou sem e-mail!

rspiff disse...

vai ao teu primeiro post...em abril de 2004

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belo blogue...parabéns pela sensibilidade