6.13.2005

Palavras no ADEUS...


Foto By Xein


Palavras escassas que quase sempre sufocam, palavras parcas de sentido quando quase tudo perde o sentido, palavras sujas por ideais perdidos, palavras vivas por quem as lembra.... Palavras sentidas por quem as vive...

Tão poucos dias para dizermos tantos "ADEUS" ao Mundo... Tão poucos dias e tão poucas palavras são necessárias para descrever os três homens que nos deixaram de súbito: FORÇA! Cada qual com a sua; com a sua visão da vida, do Mundo, com a sua forma de expressão...

Aqui, deixo a forma de expressão que mais sentido faz neste canto: a poesia, por Eugénio de Andrade.

ADEUS a quem parte. BOM DIA a quem chega de novo. Até já, a quem por aqui passa...


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade




Sintam-se.... Poetas nesta vida...

5 comentários:

Rui F Santos disse...

o Eugénio era poeta e nunca fez mal a ninguém.
que descanse em paz.

trigolimpofarinh@mparo disse...

“Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
- e é tão pouco!”

Eugénio de Andrade

Adeus, até sempre…

dinorah disse...

Adoro este poema dele!
Obrigada pelas correcções!
beijinhos

Unknown disse...

tres caminhos uma vida em cada uma, uma vondade, 3 caminhos, 3 viagens...3 memórias.

Anónimo disse...

Tens uma cara de esgaseada que vou-te contar... :-)
gostei muito da homenagem bem merecida, beijos