A condição do Som...

Quartos fechados virados para o Mundo... Quartos escuros onde nos perdemos nas ondas melodiosas que ecoam entre as paredes... Paredes escuras que se vêem em azul... Azul céu, azul mar. O mar onde mergulhamos e afogamos mágoas e descontentamentos, e nos entregamos às luxúrias musescas das profundezas. Lá, encontramos os nossos tesouros perdidos, os nossos pensamentos fechados a chave de cadeado. Soltam-se os mitos de Pandora, soltam-se os medos, mas também os prazeres desconhecidos, escondidos, amordaçados.

A música tem esta condição; faz-nos viajar para onde quisermos. Deixamo-nos ir sem saber bem para onde, muitas vezes sem comandar o desvio dos pensamentos. A música tem disto: desperta-nos os sentidos inquietos e põe-os em acção... A música é mesmo assim, dirige-nos para os braços longos, quentes, daqueles que vivem nas nossas imagens – presentes ou ausentes - que nos fazem sentir protegidos. Acende o desejo, aproxima as nuvens, faz-nos rir, faz-nos chorar.... A música, tal como a beleza está por todo o lado... Desejos, amores, ódios, paixões, raiva, sofrimento, alegrias, amarguras, distância.... Ausência... E à distância de um cometa morto fica-se perto... Um rosto sem face ganha contornos precisos...

Um príncipe de madeira caído a um canto do meu coração, assim és tu, que me surges à memória por um qualquer som... Arrastando os nomes dos outros e esquecidos de si que estão… Contactos perdidos, como palavras no vento… Que nem sempre nos trás o que queremos, nem sempre nos trás quem pretendemos, que não nos faz voar... Como qualquer nota, entre o Sol e o Si....

Assim é, a condição do Som...

Sintam-se sonidos...