Cumpriu a rotina de todas as noites... Fechou os estores mas antes olhou a rua escura e vazia. Esfregou as mãos como quem esfrega a alma. Trancou a porta e sorriu perante o gesto: nunca ninguém quis entrar até à data.
Aconchegou o casaco de lã ao pescoço e andou, lentamente até ao frigorífico. Abriu-o. Tirou o pacote de leite. Encheu o copo. Sentou-se. Bebeu o primeiro golo para empurrar o que sobrava do dia. O resto bebeu para não se estragar, como tantos outros dias... No rádio, sempre ligado, tocavam as músicas do costume. A novidade não era o máximo, nem o paradoxo...
O gato enroscou-se -lhe nas pernas e ronronou. Pegou-lhe, fez-lhe uma festa:
- Anda, vamos dormir. Ainda não foi hoje que ele nos visitou. Mas vais ver que amanhã, no regresso do café, vou ter notícias no correio, no email, com estas modernices.
Deitou-se, num cansaço muito velho num corpo muito novo, com o gato aos pés. Há muito que não sonhava. Antes de cair no sono compulsivo do comprimido que acaba com os dias, tentou lembrar-se do último momento em que fora feliz. Adormeceu nessa busca.
Vi um gato. Após ver o gato, desencadeou-se tudo... Num ápice pensei, acordada, que não sei se fechas sempre os estores. Não sei se está sempre escuro, também não sei se olhas sempre para o pouco de rua que consegues avistar do alto do 13º andar. Sei que tens um gato. Sei que tens mais que um gato.... São muitos gatos, com muitos bigodes, com muitas festas para fazer. A miar....
Assim era o seu sonho, a dormir... Só, mas sempre acompanho por quem não o abandonou... Olhou em volta... Não ouviu miar, mas reparou que, afinal, está sempre lá alguém, nem que não seja do outro lado do sonho com o pensamento tão próximo de nós.
Sintam-se... A Sonhar!
5.17.2004
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1 comentário:
Lindo, extremamente lindoooooo, Miudinha…
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