5.25.2008

amor é prosa sexo é poesia





'[...]E resolvi escrever sobre essa antiga dualidade: sexo e amor. Comecei perguntando a amigos e amigas. Ninguém sabe direito. As duas categorias trepam, tendendo ou para a hipocrisia ou para o cinismo; ninguém sabe onde a galinha e onde o ovo. Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta. Assim sendo, meto aqui minhas próprias colheres nesta sopa.
O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.
O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.
No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrrário não acontece. Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.
Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.
Não somos vítimas do amor, só do sexo. “O sexo é uma selva de epiléticos”. O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens. O mercado programa nossas fantasias.
Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, finge-se um "amorzinho" para iniciar. O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo. O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda. E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... '
eu também não sei.... provavelmente são, ambos, a essência da vida: um, o início. outro, o fim!

10 comentários:

Johanna Beringer disse...

Muuito interessante! :)

Johanna Beringer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Runner disse...

Uma coisa levará sempre á outra e vice-versa, a menos que não haja continuidade...seja lá no que for...percebes?

:)

Morgainne disse...

É um dilema antigo...
Para mim o AMOR engloba o SEXO... o SEXO engloba o próprio! Há AMOR sem SEXO e SEXO sem AMOR... e até há AMOR e SEXO sem NEXO... mas isso é outra história!
Nem o AMOR nem o SEXO são sempre bons a 100%... infelizmente! Mas quando o SEXO é BOM faz esquecer a falta de AMOR... Mas nada faz esquecer a falta de SEXO... lol... isto na minha humilde opinião, obviously!

Unknown disse...

Raramente vi um texto tão comprido tão bem escrito sobre um tema(s) tao complexo(s).
Fizeste amor com as palavras.
Sentio-o

Fica bem

Ludovico

Mac Adame disse...

"Amor é prosa, sexo é poesia". Que diabo, não gostei nada deste título! Não acredito. E, ou eu percebi mal, ou o texto não o confirma. Prefiro o sexo ao amor, mas prefiro a prosa à poesia. E agora? Serei incoerente? Ai, ai... Sente-te.

Pedro Ferreira disse...

Para mim o sexo é a procura do amor...se é que podemos falar em distinçoes...quantas vezes acordamos ao lado de alguem, frios indeferentes, frustrados na incoerência dos carinhos e afectos trocados ao longo do acto sem adesão ao sentimento...Procuramos amar nesse acto o no final só o gesto permanece...Falamos do sexo como se fosse a parte animal de nos, o instinto em acção. Eu falo dele como uma procura...como uma parte do desejo de amarmos...e de encontrar.

choco disse...

bem sentido!!!realmente ta bem escrito...sexo é sexo e amor..bom isso agora é outra historia...como sempre adoro os teus textos..ate parece aquelas melguisses que eu escrevo nas minhas fotos mas sem ter nada a ver...simplesmente lindo!!
jocas
spotdoxoco..

Unknown disse...

"Amor é bossa nova, sexo é carnaval."

Isto diz tudo!

Miguel A. Lopes disse...

Não sei viver sem prosa nem poesia...